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Belo Horizonte pode respirar tranquila, não há o que temer. O super-herói dos quase três milhões de moradores da capital e regiões metropolitanas certamente já está em vigilância. Atende pelo nome de Celton, quando na verdade o verdadeiro herói parece ficar em segundo plano.

 

Ele já foi cientista e até se chamou Homem-Felino. Mas, hoje, o protagonista das grandes missões na metrópole de Bêlo City é um mecânico simples, cujas impressionantes força física e velocidade acima do normal são secundárias. Fugindo do estereótipo dos super-heróis comuns, Celton evita confusões e, com toda a cordialidade de sua origem mineira, procura sempre as melhores soluções para os problemas que se presta a resolver.

 

Contudo, Celton também é Lacarmélio Alfêo de Araújo. Ou talvez o inverso; Lacarmélio sendo Celton, o verdadeiro herói. O uniforme chamativo, um terno amarelo berrante, cola a atenção de todos que se encontram no trânsito engarrafado de BH. Mais do que no sentido figurado, carrega uma bandeira com letras garrafais que anunciam sua missão: “Estou vendendo as revistinhas que eu mesmo fiz. R$ 2,00”. As palavras simplistas da bandeira são propositais, com justificativa e tudo: "Minha placa está para mim, assim como a teia para o Homem-Aranha. Sem ela, consigo andar tranquilamente na rua. Com ela, todos me conhecem". É aí que começamos a enxergar o criador e criatura se confundindo na própria história.

Logo aos seis anos de idade, o menino nascido em Inhapim, região leste de Minas, já dava sinais da paixão pelas histórias em quadrinhos. Residia em Itabirinha de Mantena quando, sob estratégia familiar desembarcou na capital de mala e cuia. Aos 13 já trabalhava como vendedor de frutas pela cidade. Ainda foi engraxate, ocupação que aguçou seu talento em conquistar clientes nas ruas – entre um sapato e outro, o Lacarmélio apresentava um de seus personagem criados. Aos poucos, ele sentiu que estava na hora de dar mais visibilidade ao seu herói principal.

 

O personagem Celton nasceu em 1981, mas só emplacou em 1998, quando Lacarmélio, após uma interrupção de cinco anos na produção, não conseguiu ficar longe dos quadrinhos e, com o incentivo da mulher, Cássia, reformulou a revista e recomeçou a numeração. O grande problema inicial foi a recusa das editoras, que não quiseram apostar nas aventuras de Celton, nem mesmo em São Paulo. Convicto da capacidade em emplacar suas histórias, partiu para a produção independente e convenceu a própria mãe a pegar um empréstimo em banco para financiar a empreitada. De cara, Lacarmélio sentiu que as vendas nas bancas da cidade não seriam suficientes. Resolveu então investir no talento construído na adolescência passando ele mesmo a vender suas produções. Mas não seria tarefa fácil e era preciso se preparar. Assim, deixou o Brasil, em direção aos Estados Unidos.

Os seis meses em Nova Iorque foram árduos, mas determinantes para a mudança que ocorreria na trajetória de Lacarmélio. “Certo dia, parei numa banca de revistas e vi vários heróis nos quadrinhos. Cada um deles representava, de certa forma, o lugar onde morava. E pensei: quem representa minha cidade, meu país?”. Quando voltou ao Brasil, trouxe na bagagem a ideia de lançar seu trabalho no cenário certeiro de Belo Horizonte. A relação de Araújo com as ruas da capital é antiga. "Tão logo a gente se mudou, parti pra rua atrás de grana. Vendi mexerica, doce, picolé. Hoje, entendo que essa experiência quando adolescente me formou", conta.

 

Celton então ganhava mais que uma causa; cativava leitores pela empatia. Após um grande levantamento sobre a região metropolitana, o herói finalmente adotou a identidade de um típico belo-horizontino. Os surpreendentes desafios agora eram travados na Avenida Afonso Pena, Praça Sete, Mineirão, Praça do Papa, etc. Ao comprar a revista, a pessoa levava, também, um pouco da história da cidade com suas peculiaridades e folclores. Lendas urbanas, como "Loira do Bonfim" e "Capeta do Vilarinho", ficaram ainda mais afeitas ao imaginário público depois que Lacarmélio conseguiu incorporar a participação de Celton.

 

Desde o início, quem desenha, escreve, produz e vende a revistinha mais famosa de BH é o próprio autor. A cada dois meses, uma tiragem de 20 mil exemplares sai da gráfica para ser vendida inteiramente nas ruas, nas filas de carros presos em engarrafamentos dos diferentes cantos da cidade. Motoristas de táxi, de ônibus ou de carros particulares, motociclistas, pedestres, passageiros e guardas, todos são clientes do trabalho de Lacarmélio. Algumas edições fazem mais sucesso que outras e por vezes são publicadas novamente.

 

O contato direto com o público, as opiniões que ouve e as reações das pessoas nas ruas ajudam na concepção das aventuras. Um dos maiores sucessos nasceu assim, com "O Combate da Sogra com o Capeta", que ultrapassou 45 mil exemplares vendidos. Tal publicação não teve a interferência da esposa, que é quem administra as finanças. Os cálculos feitos pela mãe do pequeno Pedro ajudaram o marido a fazer do sonho mais que um complemento financeiro – graças às revistinhas vendidas a família vive hoje em um confortável apartamento próprio.

 

Celton recebe planos ousados. Ciente do potencial natural da cidade de São Paulo em questão de engarrafamentos, Lacarmélio já se prepara para, em breve, ter episódios no cenário paulista. "Um mercado novo se abriu em SP. A receptividade da revista lá é ótima e meus investimentos futuros vão ter como alvo a grande capital dos paulistanos. Mas isso é profissionalmente, minha cidade sempre será Belo Horizonte", explica.

O relacionamento de paixão por BH enche de lágrimas os olhos desse personagem único. É um belo-horizontino por escolha e amor. Cita as montanhas, avenidas, bairros que nem existiam quando ainda era garoto, com a intimidade de quem nasceu aqui. Um vencedor da nossa geração como tantos outros que lutam para conseguir o sucesso. "Não me considero um herói, tudo que fiz foi fruto de muito trabalho", modestamente dispensa o título, com aquele sabor da discrição e simplicidade mineira. Mas para Belo Horizonte, um de seus grandes heróis é o personagem único Celton-Lacarmélio.

 

 

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